sábado, 18 de abril de 2009

Falta determinação vontade para a erradicar fome - presidente do Instituto Ethos

Falta determinação vontade para a erradicar fome - presidente do Instituto Ethos

 

Rio de Janeiro, 17 Abr  -- A fome não foi erradicada no mundo por falta de recursos mas pela ausência de "determinação política e vontade mundial", avaliou o presidente do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, Ricardo Young.

"Se o mundo se mobiliza para impedir que aqueles que têm alguma coisa não percam tudo, por que o mundo não se mobiliza para aqueles que não têm nada", questionou, em declarações à MCS, no Rio de Janeiro.

Young esteve presente esta semana no Fórum Económico Mundial da América Latina, levado a cabo no Rio de Janeiro, que discutiu os impactos da crise financeira e as respostas à desaceleração económica, além de políticas públicas para um crescimento sustentável e os desafios para um desenvolvimento verde.

Para acabar com a pobreza no mundo estima-se que são necessários 150 mil milhões de dólares (113 mil milhões de euros) por ano durante 15 anos, explicou o presidente da organização sem fins lucrativos, ao criticar a injecção de volumosos recursos para salvar bancos e instituições financeiras da crise.

"Nós vimos mais de sete biliões de dólares despejados no mercado num período de seis meses", disse à MCS Young.

"Se nós tivéssemos tanto medo da pobreza quanto tivemos do derretimento dos mercados", analisou, "certamente a pobreza teria acabado no mundo". E afirmou que, contraditoriamente, "o derretimento dos mercados não foi outra coisa se não o medo de aqueles que não são pobres de se tornarem pobres".

A crise tem mais de uma dimensão, considerou. "É a crise dentro de outra crise. Nós vivemos no século XX inteiro um padrão de desenvolvimento que levou o mundo à beira do colapso e só há possibilidade de prosperidade no século XXI dentro de um modelo sustentável de desenvolvimento", expressou.

O abalo financeiro, para Young, colocou em "xeque-mate" a forma tradicional de os estados lidarem com a economia e com as empresas. Os Estados foram "omissos" e estão a ser convocados a terem uma maior participação, referiu.

O cenário actual de redefinição de forças e valores, argumenta Young, centraliza a pobreza nas discussões sobre desenvolvimento económico. E neste sentido, o presidente do Instituto Ethos referiu que o Fórum Económico está a transformar-se.

"O empresariado mundial percebeu que não vai haver prosperidade se continuarmos num mundo tão ameaçado tanto pelo modelo de desenvolvimento quanto pelos antagonismos ideológicos. A desigualdade nos níveis que encontramos na América Latina, na Índia e no Sudeste Asiático é uma vergonha", considerou.

Young defendeu ainda que a pobreza deve ser enfrentada como uma questão ética e moral. "Agora sabemos que não é por falta de recursos".

Para o presidente da organização que trabalha com empresas para o desenvolvimento de responsabilidade social, a tendência actualmente é a convergência das agendas formuladas pelo Fórum Social Mundial e pelo Fórum Económico.

As questões mais sensíveis e comuns para os dois fóruns enfocam o combate à corrupção, à pobreza e ao desemprego, assim como compartilham visões sobre o meio ambiente e a inclusão social.

"A diferença é que no Fórum Social os movimentos vêm de baixo para cima, são movimentos capilares da sociedade". Por outro lado, destaca que no Fórum Económico, "as propostas vêm de cima para baixo" e provêm de líderes com o poder de interferir e mudar processos e governos.

"Um é o espelho do outro, não vamos conseguir um mundo em equilíbrio se esses fóruns, em algum momento, não colaborarem", declarou

Young espera que num curto período esse passo já poderá ser concretizado. "Essa é uma agenda que num futuro próximo nós vamos ver acontecer."

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